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sábado, fevereiro 25, 2012

[Texto Longo]Censura vs. Educação


Recentemente foi publicada uma carta aberta desaprovando a censura de jogos eletrônicos(Games) cujo conteúdo fosse de certa forma ofensivo ou que denegrissem a imagem de um grupo etnico.Link AQUI


Após ler a carta em questão acompanhei por certo tempo os comentários novos que surgiam e um me chamou atenção:
"(...)Censura usada de forma ilogica ou errada é sim burrice."

Fiquei me perguntando se não se tratava de uma piada de mau gosto ou algo do tipo.
O argumento é muito vago e decidi debater mais o assunto. Infelizmente, o autor do comentário decidiu por atacar a mim e não ao meu argumento como forma de defesa e quando defendia seu ponto de vista, Educação e Censura eram praticamente a mesma coisa.
Apesar deste episódio infantil, refleti sobre censura e sobre a educação(não escolar).

Os Pais e A Censura
Os pais censuram os filhos o tempo todo. É o caso de escolher um filme para assistir com a família e evitar filmes demasiado violentos ou com cenas de nudez explícita. Os pais censuram os filhos com o intuito de educá-los, o que é o correto a se fazer pois somos seres que imitamos o que de certa forma nos desperta simpatia.

A Censura por parte dos pais é importante pois isso ajuda na formação do caráter e a transmitir valores. Quando um pai censura o filho visa o desenvolvimento do mesmo como cidadão, como pessoa integrada a sua Comunidade.
É ingênuo imaginar uma sociedade onde as crianças não recebem punições por atos que os pais julguem reprováveis.

O Estado e A Censura
Por que a Censura por parte do Estado é errada?
O Estado não tem o papel de educar o cidadão. O Estado deve 'administrar' o patrimônio público e garantir o funcionamento das Instituições Governamentais.
Cabe a família educar à seus filhos e aos adultos se informarem para poderem chegar a conclusões próprias.
Qual a lógica presente na censura?
No Brasil, o Livro Mein Kampf de Adolf Hitler não é vendido por nenhuma editora, o que julgo um absurdo.
Hitler era um fanático maluco com ódio dos judeus. Por quê? Por que esse homem que conquistou a França e inúmeros territórios tinha essa obscessão antissemita?
Confesso que essas questões eram muito vagas e ninguém se propunha a respondê-las.
Li o livro de Hitler, o qual adquiri em um site de compartilhamento de arquivos, e pude ver o quão infantil eram seus argumentos contra os Judeus. Quando lhe faltavam pedras para atirar apelava para frases como: "Eles fedem", "São ratos".
Agora tenho uma visão mais clara sobre as ideias de Hitler e sei que são infantis e estúpidas.

Censurar um conteúdo que ofenda não é o caminho certo. Um ambiente propício a debates é o ideial para relevar ideias e chegar a conclusões sobre determinado assunto.
Esse ambiente 'democrático' é visto, por exemplo no humor?

O Humor e A Censura
Há alguns meses o Comediante Rafinha Bastos fez aquela piada infame, link AQUI. Desde então o cerco se fechou sobre o Comediante.
Ele havia lançado o DVD 'A Arte do Insulto', show solo do mesmo onde faz uma piada com a APAE(Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Um jornalista viu a piada e se dirigiu à APAE . Sentindo-se pressionada a APAE processou o Comediante e seu DVD não pode mais ser vendido.

No Brasil temos uma ideia errada de humor, achamos que o humor bom não ofende ninguém.
Isso é impossível. O humor é baseado no absurdo e esse absurdo faz com que alguma parte envolvida na história sofra.
O humor pode ou não se tratar da opinião do comediante, ele ira usar do absurdo para fazer o público rir. Irá exagerar seu ponto, se for o caso.
Não levemos os comediantes à sério.

Há o chamado Humor do Bem. Mas como? Não é possível fazer uma piada sem fazer algo ou alguém parecer estúpido, destraído ou absurdo.
O limite do humor é o riso e quem se beneficia disso ou não é o comediante. Se as pessoas gostam de seu trabalho elas simplesmente dão audiência para o humorista, compram seus livros, vão aos shows. Se as pessoas não gostam do humor dele, ele simplesmete tem de se reinventar ou mudar de profissão, pois tende a ser esquecido.

Felizmente, em outros paises o humor ácido é mais difundido e mais tolerado.

Devemos ter liberdade de escolha sobre o que decidimos consumir, e na forma como pensamos.

Estava na hora de um comediante se impor e não se desculpar por fazer humor. Imaginem só se o Rafinha Bastos tivesse se desculpado, teria de fazer uma sequencia interminável de pedidos de desculpa e isso seria nocivo à liberdade que temos.

A Cultura e A Censura
Não é certo Censurar a Arte, da mesma forma que é errado censurar uma ideia, um livro que defenda um ponto de vista tido como 'ofensivo'.
Existem vários níveis de ofensa, e o que ofende um indivíduo não irá necessariamente ofender os demais.
Por isso a Censura é algo reprovável. Se ela visa proteger uma parte específica, tira o direito de outra parte de conhecer tal assunto.
Não é certo punir uma parcela da população por que uma outra parcela se sente ofendida. Mesmo que a parcela ofendida seja maioria absoluta.
Cabe a nós filtrarmos o conteúdo e analisarmos o que é bom ou não para nós. Como saberia eu que não gostava do livro Crepúsculo se não tivesse iniciado sua leitura?(Não que eu tenha terminado o primeiro capítulo)
Como eu me descobriria um fã de histórias épicas se não tivesse lido A Torre Negra?
Como escolher as músicas que gosto sem conhecer as que não me identifico?
Não é possível criar uma bagagem cultural sem experimentar novas formas de cultura. Sabendo-se do que não se gosta, pode-se descobrir o algo com que se identifique.
Mesmo o livro de Hitler, citado anteriormente, mostrou algumas ideias interessantes quanto a política e me mostrou um cenário da Alemanha no início do século XX pelos olhos de um alemão nacionalista.
Evidentemente, não irei sair queimando judeus e suas lojas, pois essas ideias antissemitas são infantis e não me identifiquei com elas.

A Censura da Censura
Aparentemente as pessoas acreditam não haver censura no Brasil.
Como não?
Existe uma censura pelo povo, o que é até certo ponto bom, pois o povo dá valor ao que lhe interessa. Porém, os valores usados para essa censura 'espontânea' são tão arbitrários quanto os valores de qualquer censor.
Um exemplo trágico são os inúmeros casos de violência contra homossexuais em plena Avenida Paulista. As pessoas censuram o comportamento gay e se sentem no direito de atacar essas pessoas que são diferentes deles.
A parte pior é que muitas vezes os crimes não são punidos pois não há testemunhas, ou seja, as pessoas concordam com a atitude violenta.

Outro ponto interessante é a questão das drogas. Por que não discutir abertamente a legalização de drogas que hoje são ilegais?
Porque é mal visto pela sociedade. As drogas são ruins, boo!
A população não se interessa pelo debate, foi educada desde sempre a não debater. O que é uma lástima. Mas o número de usuários de drogas continua crescendo. Isso é no mínimo interessante.
Existem estudos sobre o impacto das drogas na vida das pessoas, sobre os possíveis impactos da legalização de algumas drogas 'recreativas'. Mas isso não é debatido, pois aos olhos da população em geral, se você apoia a legalização da maconha você é um maconheiro viciado de merda. Logo fica difícil argumentar.

Conclusão

O Estado não é família para que nos eduque.
A família deve censurar comportamentos que sejam nocivos à harmonia do lar e à sociedade. Cabe ao cidadão conhecer ideias diversas e ter o direito de apoiar ou não as ideias que bem entender.
Devemos debater mais abertamente assuntos 'polêmicos', como aborto, casamento gay, drogas, política e etc.
Só existe uma forma de ser contra uma ideia, conhecendo-a. Desta forma, censura nos tira o direito de conhecer, nos tira a liberdade de escolha e nos aprisiona num campo limitado de ideias.

"A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original" Albert Einstein

Editem a vontade.

Caio Marchi Gomes do Amaral

Um comentário:

  1. Muito bom!
    Acredito que haja mais censura do que debate porque estamos numa era preguiçosa, onde os pais têm preguiça de educar, então proibem e censuram porque é prático e não demanda explicações (ao ver deles).
    A educação é a melhor forma de combater o preconceito, que nem sempre é o motivo de uma piada.
    Acho que hoje em dia as pessoas levam piadas e jogos mais a sério do que educação e política.

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